Imprensa, redes sociais e as fontes de informação
Seja na linha do tempo do Facebook ou nos grupos e listas do WhatsApp, as notícias têm disputado espaço com diferentes tipos de conteúdo em circulação. Também não é raro ver usuários que relatam acompanhar o desdobramento de um caso noticiado, circulado e recirculado somente pelas manchetes e destaques que veículos de comunicação e usuários fazem dos materiais compartilhados. Compreender, portanto, o cenário do consumo de informações atualmente passa por entender de onde vêm as notícias que consumimos, como as buscamos e o que fazemos com elas.
Na última semana, pesquisa divulgada pela Pew Research analisa como norte-americanos encontram notícias, se lembram delas e agem a respeito. Por uma pequena maioria, a forma mais comum de obtenção de notícias ainda é a busca direta em um veículo de imprensa. Segundo os resultados, nestes casos as pessoas demonstram uma maior consciência de quais são as fontes das notícias, bem como uma propensão menor ao compartilhamento dessas notícias em redes sociais ou aplicativos de mensagens.
Por outro lado, ainda segundo o relatório da Pew e destaque da revista Columbia Journalism Review, quando essas notícias chegam às pessoas por algum desses meios, é menos provável que esses leitores se lembrem “de onde” aquela informação veio. Junto disso, há uma maior probabilidade de que estes conteúdos sejam compartilhados em suas redes de contatos. Neste caso, a pesquisa destaca que 10% dos entrevistados que clicaram em um link de notícias, apontaram o Facebook como uma "fonte de notícias".Todas essas questões precisam ser colocadas quando se reflete sobre questões referentes ao jornalismo atualmente, como notícias falsas e as estratégias para atração de público nas suas páginas em redes sociais.
Outra pesquisa, voltada para a percepção das pessoas sobre notícias falsas em redes sociais, realizada na University of Western Ontario, também aponta que os sites de redes sociais como fontes de informação pode resultar numa “descontextualização” da origem das matérias e numa consequente “erosão” de valores institucionais dos veículos de imprensa, como a credibilidade. Conflitos que se apresentam para a prática jornalística na atualidade, que demandam novos questionamentos e práticas no estabelecimento de uma ética profissional que extrapole as certificações de conteúdo pela fonte e que alcancem práticas e níveis de correção capazes de se estabelecer entre os profissionais e se compartilhar com o público.
Estes dados também dialogam com o relatório da Pew Research, de maio de 2016, a respeito do consumo de notícias em nove redes sociais diferentes. Usuários do Reddit (70%), do Facebook (66%) e do Twitter (59%) disseram usar estes sites para conseguir informações, dados que ainda não se repetem em outros tipos de redes sociais, como o Instagram (23%) e Snapchat (17%), embora os dados apontem para um crescimento de todas as redes sociais, em algum nível, como fonte de informação. Ainda no primeiro semestre de 2016, o Centro de Estudios sobre Medios y Sociedad (MESO), divulgou pesquisa, em parceria com a Universidad de San Andrés, ambas da Argentina e com a Northwestern University, na qual se aponta para o consumo de notícias segundo uma lógica “incidental”. Neste caso, os jovens usuários de redes sociais acompanham as informações de acordo com o que as suas linhas do tempo circulam, e não buscando informações em veículos de imprensa.
Apesar de lidar com uma pequena quantidade de entrevistas, ainda, o estudo aponta para tendências no consumo de notícias entre os mais jovens que, se observados junto com os outros estudos, demonstram uma urgência de pensar a produção de notícias dentro deste contexto. Descobrir o que muda nas formas de acesso e uso de notícias deve ser o primeiro ponto para repensar também as suas formas de produção e compartilhamento com o público. As iniciativas de checagem de fatos são parte das ações de combate à publicação de notícias falsas, e buscam atribuir uma credibilidade informativa mínima ao conteúdo publicado. Porém, uma mudança de tal amplitude nas formas de acesso e uso das notícias evoca uma reflexão mais profunda sobre os deveres profissionais dos jornalistas e as formas de diálogo com o público.
Caio é doutorando em Comunicação e Cultura na UFBA.