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Os blogs de humor e a apropriação autoral do BBB 17



O acesso e a popularização da internet facilitaram algumas possibilidades de interação que viabilizaram a participação de agentes até então pouco óbvios na cena midiática, de modo a nos permitir perceber novas instâncias discursivas se dispondo e dialogando através de múltiplas plataformas. Partindo dessas possibilidades de relacionamento online, podemos observar como fatores tecnológicos e culturais se associam no redirecionamento de conteúdos midiáticos que estavam, até então, previstos para uma lógica tradicional, orientada e síncrona de consumo.


No caso de blogs humorísticos e páginas de humor em redes sociais percebemos que a chacota, o pastiche e a paródia propiciam um uso adaptativo menos engessado das peças midiáticas que circulam pela web. Dado o predomínio de uma forma de contato mais participativo com obras massivas, tais quais reality shows, estes blogs e páginas conseguem engendrar novos rumos narrativos, alterando parte roteiro de apresentação de conteúdos ao longo da rede. Assim, temos que circuito comunicativo no qual a 17ª edição do reality show Big Brother Brasil se fez presente aos usuários onlines é exemplo de um modo de consumo menos controlado por uma esferas de produções tradicionais de conteúdo.


Ao fazer uso do deboche como recurso humorístico, estes canais atuam como programas de desestabilização criativa frente à conteúdos conhecidos e previsíveis. Antes mesmo da estreia do BBB, páginas de humor como o Sensacionalista, Morri de Sunga Branca e Diva Depressão propuseram publicações nas quais apresentavam os participantes da nova edição do reality. Além de selecionarem características que consideram marcantes em cada personagem, seus textos também adicionavam novos itens à narrativa, com base em estereótipos, arquétipos e elementos conhecidos das edições anteriores do programa. Por vezes, estes itens eram ficcionais ou especulativos. Deste modo, estes canais não apenas se apropriam do conteúdo, mas também o atualizam a um novo contexto, ocupando também parte da função autoral da obra, responsável por guia-la a novos consumidores.


Esta apropriação autoral, muito embora possa ser uma ação política pela democratização das capacidades midiáticas, também pode se encaixar como parte de uma estratégia transmídia de divulgação do conteúdo. Para a Rede Globo, produtora oficial do reality, pode ser interessante que o máximo de canais estejam dispostos a recircular seu produto, ainda que inserindo informações não condizentes com seu plano comercial. Há, no entanto, uma espécie de jogo ambivalente de fuga e retorno na relação destes novos agentes com o produto midiático, de desprezo e dependência com os elementos da peça e, sobretudo, um movimento constante de busca pelo controle do que pode ser dito e escape pelas bordas comunicativas daquilo que se ousa dizer. Como consequência deste fenômeno temos o desenvolvimento de novos modos de consumo que rompem não somente com a dimensão síncrona da comunicação, como também com a própria forma na qual a obra se faz presente e, sobretudo, com aquilo que se entende por produto midiático.

 





Pedro é mestrando em Comunicação e Cultura na UFBA.



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